Editorial - Rdt 197 - Revista de Direito do Trabalho

A geração a que pertenço, nascida no imediato pós-guerra, viveu sua infância e juventude num misto de esperança e medo. Vivíamos a transição para o que se convencionou chamar de 3ª Revolução Industrial, a partir de 1960, com o avanço da tecnologia e o surgimento do computador, a corrida espacial e tudo o que levava a crer que o futuro do homem – e do trabalhador, por conseguinte – seria radioso. Por outro lado, assombrava-nos o lado escuro do avanço tecnológico, sobretudo no auge da guerra fria, diante da perspectiva concreta de que tudo se desintegrasse numa explosão atômica. Era um perigo real. Em suma, acreditávamos que no século XXI – se século XXI houvesse – o homem, em face do avanço tecnológico, trabalharia menos, ao passo que os frutos do desenvolvimento seriam por todos compartilhados. Nem o mundo acabou, felizmente, nem as utopias se tornaram realidade. Agora, estamos vivendo, num processo muito mais rápido do que o das revoluções anteriores, a chamada 4ª Revolução Industrial, e é urgente que compreendamos a abrangência e amplitude dessa nova revolução. De acordo com Klaus Schwab, “as mudanças são tão profundas que, na perspectiva da história humana, nunca houve um momento tão potencialmente promissor ou perigoso”. 1 Não há dúvida de que a 4ª Revolução Industrial trará grandes benefícios para a humanidade: energia renovável, velocidade das comunicações, saúde e longevidade farão com que vivamos num mundo melhor. Por outro lado, as profundas alterações no sistema de produção terão um impacto ainda não mensurável sobre o trabalho humano, sobretudo quando consideramos o envelhecimento acentuado da população (um dos benefícios da revolução) e a consequente necessidade de se redistribuir renda e elaborar mecanismos de sustentação da previdência social. O professor Ricardo Abramovay, atento à necessidade de a sociedade contornar o que chama de “horizonte distópico tão frequentemente associado ao avanço da inteligência artificial, do aprendizado de máquinas e da internet das coisas” 2 , que são, como sabemos, as pontas de lança da 4ª Revolução Industrial, adverte que “a inteligência artificial é e só pode ser um meio. Cabe à sociedade civil, aos representantes do Estado, às empresas e aos cientistas estabelecer suas finalidades. E é claro que as bases destas finalidades são de natureza ética”. Em outras palavras, o avanço das tecnologias só tem sentido se vier em benefício do homem. O avanço tecnológico que despreze, por exemplo, a questão ambiental (descurando da substituição das energias fósseis pelas renováveis, do controle da emissão de carbono e da erosão da biodiversidade) já não faz nenhum sentido. Já não faz nenhum sentido, também, que as inovações sejam feitas de forma excludente. Talvez as utopias já não façam sentido, mas é necessário que a política, que é a arte de organizar a sociedade, caminhe no sentido de mitigar a gritante desigualdade social que as revoluções industriais anteriores só fizeram exacerbar. A natureza ética que deverá balizar a nova revolução impõe, ainda agora, a premissa fixada dois mil e quinhentos anos atrás pela filosofia, de que o homem é – deve ser – a medida de todas as coisas. 3 Márcio Eurico Vitral Amaro Ministro do Tribunal Superior do Trabalho A quarta revolução industrial. São Paulo: Edipro, 2016, p. 12. O sentido da inteligência artificial. Valor Econômico de 24.09.2018. Apresentado no 2º Congresso Mundial Cielo Laboral 2018, sobre a 4ª Revolução Industrial.

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