Prefácio

As reflexões reunidas no livro de José Paulo são fruto de sua larga experiência em matéria de organização, planejamento estratégico e governança de escritórios de advocacia, primeiro como sócio gestor de grandes sociedades de advogados e depois como consultor independente. Os relatos, análises e recomendações ganham significado especial, na medida em que o autor é engenheiro de formação e não atua como advogado. Conforme o livro demonstra, isso lhe permitiu desenvolver um olhar externo e bastante lúcido sobre a evolução dos modelos organizacionais e as mazelas que cercam o exercício da profissão jurídica, com destaque para os principais desafios, as alternativas de solução e as tendências futuras. O texto não possui pretensões acadêmicas. Ao contrário, privilegia a linguagem coloquial e faz uso de metáforas, o que torna a leitura agradável e facilita a compreensão das mensagens que o autor pretende transmitir. Particularmente ilustrativa é a comparação do movimento aleatório das partículas imersas em um fluído submetido a aquecimento (movimento browniano), com as tensões inerentes a uma sociedade de advogados cujos sócios compartilham afinidades técnicas, complementação profissional, aspirações pessoais e valores éticos. Quando os sócios são submetidos à pressão, esses atributos geram atritos e impactos, fomentando a tendência de separação. Para o leitor ficará claro que o mercado de serviços jurídicos está se transformando de forma rápida e profunda. Não é mais o escritório de advocacia contratado quem dita as condições de prestação dos serviços, mas, sim, o cliente contratante, sobretudo no que se refere à forma de remuneração a ser adotada. O aspecto indutor mais relevante dessa mudança de paradigma está no acirramento da concorrência, com a ampliação do número de escritórios qualificados, especializados e bem estruturados. Paralelamente, tem aumentado a pressão dos clientes corporativos pela redução de custos dos serviços jurídicos, além da cobrança de maior comprometimento, responsabilidade e postura ética do advogado. A necessidade de compreensão e adaptação ao novo cenário tornou-se fator decisivo para sobrevivência das organizações profissionais na área jurídica. Nesse contexto, a preocupação central dos escritórios de advocacia deve recair na busca incessante da eficiência, produtividade e competitividade. Para isso, é essencial reunir profissionais com qualidades que transcendem o simples domínio da técnica jurídica. O advogado bem-sucedido é hoje aquele que também detém competências comportamentais, tais como capacidade empreendedora, visão estratégica, construção de relacionamentos, trabalho em equipe e gestão de pessoas. A dimensão ética da atuação profissional é outro ponto que tende a ganhar espaço como critério de diferenciação entre escritórios de advocacia que já atingiram nível elevado de qualidade na prestação de serviços, com preços coerentes e competitivos. Nessa mesma linha, o livro chama a atenção para o papel-chave da gestão de lideranças e talentos no âmbito dos escritórios de advocacia. O desafio aqui é como estabelecer parâmetros de avaliação de desempenho e de partilha de resultados, que favoreçam o ambiente colaborativo e a sustentabilidade no longo prazo, sem deixar de motivar os profissionais a darem o melhor de si para o êxito da sua organização. Finalmente, merecem destaque as reflexões do autor sobre a importância da governança da informação e o impacto dos avanços tecnológicos no exercício da profissão jurídica. Nesse particular, a nova tecnologia não dispensará a atuação do advogado no mundo empresarial, mas cumprirá a função de ferramenta de apoio ao aumento da produtividade dos serviços jurídicos. Com isso, os profissionais qualificados serão liberados da execução de tarefas repetitivas e com pouco valor agregado, para se concentrarem na resolução de problemas complexos ou de caráter estratégico. Para quem já percebeu e vivencia as mudanças que estão em curso na área jurídica, a leitura do texto de José Paulo ajudará a formular e a escolher alternativas de ação. Para quem ainda não se deu conta desse cenário, trata-se de uma oportunidade para tomar conhecimento da nova realidade e repensar suas próprias perspectivas profissionais. Nunca é tarde para corrigir rumos e redefinir objetivos. Mario Engler Pinto Junior Professor da FGV Direito/SP e Coordenador do Mestrado Profissional

Governança Estratégica para Escritórios de Advocacia - Ed. 2019

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